terça-feira, 22 de janeiro de 2013

Saiba por que as mulheres devem beber menos do que os homens


Maior risco de desenvolver câncer de mama é um dos motivos

article imageEm qualquer questionário médico há sempre uma pergunta sobre ingestão de bebida alcoólica. E as opções de resposta, em geral, incluem algo do tipo “moderadamente” ou “socialmente”. Mas, qual é essa quantidade? Estudos médicos sugerem que a medida ideal é não mais do que um drinque por dia para as mulheres e dois para os homens. Aí surge uma outra questão: por que elas têm que beber menos do que eles?
Pesquisas epidemiológicas mostram que o consumo moderado de álcool é benéfico contra o desenvolvimento de algumas doenças. “O álcool é um alimento que ajuda em diversas funções do corpo, como as digestivas. Infelizmente, uma parcela da população desenvolve problemas graves ligados a ele. Nas grandes cidades, isso é ainda pior, sendo o álcool um grande desencadeador de atendimentos médicos emergenciais, como acidentes de trânsito”, ressalta o psiquiatra Jorge Jaber, presidente da Associação Brasileira de Alcoolismo e Drogas (Abrad).
Estudos mostram, no entanto, que enquanto dois drinques por dia podem diminuir o risco de um homem ter diabetes, doença cardíaca, ou morte, por exemplo, nas mulheres o efeito é oposto. E a recomendação, mesmo para os homens, não se aplica a toda doença. O consumo moderado de álcool parece aumentar o risco de cirrose do fígado e hipertensão.
O maior problema, no entanto, é com relação ao câncer de mama. Pesquisas indicam que mesmo a ingestão equilibrada aumenta de 50 a 100% as chances de uma mulher desenvolver a doença. Já os homens têm menos possibilidade de ter esse tipo de câncer. Para muitos médicos, tal diferença é suficiente para justificar recomendações distintas para os gêneros com relação ao consumo de álcool.
Além disso, conforme explica Jaber, a metabolização do álcool nas mulheres é menos eficiente do que nos homens por conta do funcionamento diferenciado de uma enzima que atua sobre a bebida no estômago:
“As mulheres demoram mais tempo para processar o álcool de modo que ele se concentra na corrente sanguínea em maior quantidade”, diz Jaber, para em seguida completar: “Uma das vias do fígado pela qual passa a maioria das substâncias que são excretadas é mais fina na mulher, não permitindo que todo o álcool seja eliminado”.
Segundo ele, com frequência, no caso da mulher, há um pequeno acúmulo maior de gordura em relação à massa corporal. “Isso também desfavorece o metabolismo”, ressalta. Uma teoria é que os corpos das mulheres contêm menos água por quilo do que os dos homens, o que também contribui para que uma mesma quantidade de álcool resulte em diferentes concentrações no sangue de acordo com o sexo.
Alguns pesquisadores acreditam que o estrogênio, o hormônio feminino, também interage com o álcool de um modo que aumenta a probabilidade de danos ao fígado. E há indícios, ainda controversos, de que as alterações hormonais que ocorrem durante o ciclo menstrual afetam a metabolização do álcool.
Atualmente, as mulheres respondem a 1/3 do total de atendimentos realizados na clínica de Jaber. Ele lembra que o homem é até estimulado culturalmente a beber e, consequentemente, a ter uma vida sexual de quase promiscuidade. A sociedade, no entanto, desenvolveu uma cultura repressiva nesses sentidos com relação à mulher.
Ficar sem ingerir destilados durante os dias úteis e abusar nos fins de semana não pode ser considerado beber “moderadamente”, explica Jaber. Quando a pessoa abusa, mesmo nos fim de semana, há uma tendência, estatisticamente comprovada, ao descontrole: “Sexta, sábado e domingo já são três dias contra quatro. Uma das maiores causas de falta profissional às segundas-feiras é efeito do domingo. A famosa azeitoninha estragada é quase sempre acompanhada de doses excessivas de álcool”.
Ao contrário do que parece, a recomendação de duas doses diárias para o homem e uma para a mulher não foi sempre padrão, embora possa parecer assim. No século XIX, o físico inglês Francis Anstie recomendava que os pacientes mantivessem o consumo abaixo de “três ou quatro copos de vinho do porto por dia.” Ele não fazia recomendações distintas para homens e mulheres. Em 1979, o Royal College of Psychiatrists, entidade representativa da psiquiatria no Reino Unido, notou que “quatro pints de cerveja por dia ou uma garrafa de vinho de tamanho padrão constituem diretrizes razoáveis​​.” O Conselho Nacional de Saúde e Pesquisa Médica da Austrália indicou, em 1987, que os homens bebessem até quatro doses de álcool por dia, um limite maior do que em outros países de língua inglesa, mas concordou que as mulheres devessem ficar com duas porções ou menos. Em 2001, o conselho ajustou as suas orientações para não mais do que dois drinques por dia para homens e mulheres.
Para Jorge Jaber, quem não tem alcoolismo pode desfrutar do prazer do álcool, com moderação, claro: “Um cálice ao dia é uma medida considerada razoável. O importante é tomar a bebida numa quantidade que não seja lesiva ao organismo e que não altere a capacidade cognitiva”, diz o especialista.

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