quinta-feira, 3 de março de 2011

Quando a proibição e a privação levam a compulsão

Quando a proibição e a privação levam a compulsão

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Comentário de internauta sobre o post Compulsão e Privação : Mas, se as pessoas vivem se entupindo de comida, onde fica a privação que produz a compulsão? Quer dizer, houve privação, mas foi devidamente recompensada! Isso não deveria suavizar os outros episódios?

Luciana: Infelizmente não, inclusive agrava, pois reforça o circulo vicioso formado por proibição, privação e compulsão, que gera culpa, punição e expiação da culpa. É que a compulsão se desenvolve mediante a privação alimentar real ou imaginada
. A compulsão é agravada pela proibição de sentir prazer ao comer, pelo medo constante advindos das informações “cientificas” sobre os alimentos e pelos ideais sociais de beleza, magreza e saúde. 

Quando a comida agradável ao paladar está proibida (pelos motivos acima citados), os sinais que envolvem a alimentação se perturbam. Seja porque o sujeito, diante de um alimento que julga gostoso, o come em demasia, acreditando que no dia seguinte iniciará uma dieta e nunca mais poderá comer tal coisa; seja porque já nem sabe mais do que gosta de comer, afinal todo alimento se tornou potencialmente nocivo.

Há aqueles que comem como se estivessem diante de sua última refeição, como um condenado à morte. Porque a idéia de fazer dieta já os consome de tal maneira, os persegue com tanto êxito, que toda a refeição é considerada a última. Iniciarão a dieta na segunda-feira; então, comerão indiscriminadamente qualquer coisa durante todo o fim de semana: procuram uma forma preventiva de prazer para combater a privação imaginada no futuro. Para alguns, toda a refeição passa a ter esse caráter de última refeição, de último prazer consentido antes do início de um período de intenso desprazer. O ser humano não funciona que nem camelo, não é capaz de armazenar prazer, apenas gordura. Na prática não vemos diferença entre aqueles que realmente realizam uma dieta e aqueles que apenas fantasiam essa privação, porque a mentalidade de dieta os coloca na mesma situação de perseguição alimentar. Dessa maneira, comer passa a ser um ato perigoso que deve ser inibido e que só pode ser consentido em ocasiões especiais.

Podemos antever como a privação de prazer e de alimento livremente escolhido cria as condições para o aparecimento de uma compulsão alimentar. Em minha experiência clínica, essa compulsão está diretamente ligada à privação e ao controle do corpo e da alimentação, seja ela real ou imaginada.

A mentalidade de dieta aliena o sujeito de suas necessidades e desejos, inserindo-o numa rede de controle social. O sujeito passa a comer orientado por parâmetros que vêm de fora para dentro, e perde ou não constrói suas próprias medidas

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