TENDÊNCIAS E DEBATES
Qual o legado da festa de Momo?
Governo e iniciativa privada querem fazer com que a indústria do carnaval movimente ainda mais a economia do Rio de Janeiro ao longo do ano. Por Fernanda Dias
Assim que as luzes da Marquês de Sapucaí se apagarem no próximo sábado, após o desfile das campeãs, o carnaval 2011 será oficialmente encerrado para as escolas de samba. O fôlego dos blocos dura mais uma pouco: até domingo será possível se ver foliões circulando pelas ruas em pelo menos nove cortejos. Ao fim da folia de Momo, o Rio deverá ter tido um incremento de R$ 1,5 bilhão à sua economia. Serão R$ 300 milhões a mais do que no ano passado, segundo estimativas da Associação Comercial.
Além do crescimento natural, o carnaval gerou ainda mais divisas pela época do ano em que foi realizado. Janeiro e fevereiro são meses de férias e verão, que atraem turistas naturalmente. Com o carnaval em março, é possível “ampliar” a alta-temporada, o que significa mais demanda por mão de obra em hotéis, lojas, bares e restaurantes. Em função disso, o diretor cultural da Liga Independente das Escolas de Samba (Liesa), Hiram Araújo, defende que, como acontece em outros países, a festa da carne tenha uma data fixa no calendário nacional, sempre no início de março:
“O carnaval é uma empresa que vive do mercado e tem que se sustentar pela necessidade do mercado. No Brasil, ele é um rito religioso, diferentemente de outros países, que decidem a data em função de interesses turísticos, econômicos e climáticos”, explica Hiram.
A maior parte dos investimentos e fluxo econômico gerados pelo samba e pelo carnaval ocorre durante a semana da festa. Mas, escolas e blocos já têm um planejamento contínuo de apresentações que movimentam a indústria do samba ao longo do ano. Os shows em festas de empresas, formaturas e casamentos, no Brasil e no exterior, são apenas algumas das fontes de renda das agremiações. Em parceria com a iniciativa privada, muitas já garantem retorno financeiro com camarotes de grandes marcas nas quadras e com patrocínios de projetos sociais desenvolvidos nas comunidades.
“Um desfile competitivo hoje fica em torno de R$ 5 milhões, no mínimo. Grande parte desta verba vem das empresas e do governo. Mas, as agremiações faturam bastante também ao longo do ano nas quadras, principalmente no período das escolhas de sambas. Com a implantação das UPPs, a tendência é que os ensaios recebam ainda mais moradores do Rio e turistas. Salgueiro e Imperatriz são escolas que já estão sentindo uma melhora. A grande expectativa agora é pela Mangueira”, diz Hiram.
A indústria do carnaval já se transformou em um modelo de negócio tipo exportação. A cidade de San Luis, na Argentina, a 800 quilômetros de Buenos Aires, receberá no fim do mês a apresentação de 2 mil integrantes de escolas de samba do Rio. O município, que tem duas agremiações carnavalescas, há meses já estimula intercâmbios culturais com profissionais brasileiros, através dos quais os “hermanos” aprendem técnicas de confecção de fantasias e de samba no pé.
Mas até mesmo no Brasil a fábrica de sonhos do carnaval carece de mão de obra qualificada e tem potencial de crescimento. As escolas acabam sendo reféns de alguns profissionais, pois há falta de carnavalescos, carpinteiros, serralheiros, escultores, eletricistas, iluminadores, mecânicos, costureiras e sapateiros. No fim de fevereiro, em visita à Cidade do Samba, o ministro da Ciência e Tecnologia, Aloizio Mercadante, disse que estuda a criação de uma escola profissionalizante para formação de trabalhadores para o carnaval.
A sazonalidade da festa, no entanto, é um dos entraves para que o setor empregue mais pessoas. Em geral, os contratados trabalham de julho a fevereiro ou março e poucos têm carteira assinada.
Para movimentar ainda mais a indústria do carnaval durante todo o ano, a prefeitura e a Liesa pretendem fazer uma espécie de “cinturão do samba” nos arredores do Sambódromo: além da Cidade do Samba e do Terreirão – que começará a ser revitalizado este ano para ter uma infraestrutura e uma programação de shows -, há um projeto de construção de um museu do carnaval em um dos galpões da Marquês de Sapucaí. O objetivo é estimular o turismo na região, que hoje é feito de forma amadora.
No início do ano, o prefeito Eduardo Paes anunciou ainda a intenção de construir uma segunda Cidade do Samba, para abrigar os barracões das escolas do Grupo de Acesso. O prefeito disse que já está à procura de terrenos nos bairros de São Cristóvão e Benfica.
Em curto prazo, Hiram acredita que é possível fazer um carnaval maior e mais lucrativo em 2012. Mas, para isso, ele defende um maior planejamento do setor:
“O crescimento das escolas não foi uma coisa pensada, e sim improvisada. Hoje, já temos a noção de que o carnaval é uma fábrica de dinheiro. A festa no Rio está caminhando para ser organizada e lucrativa, mas ainda é preciso trabalhar isso, principalmente de forma a garantir um retorno ao longo do ano”.
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