sábado, 19 de março de 2011

Cariocas serão os primeiros a ver mostras de Gerchman e Glauco Rodrigues

ARTES PLÁSTICAS

Cariocas serão os primeiros a ver mostras de Gerchman e Glauco Rodrigues

As duas exposições abrem esta semana na Caixa Cultural, no Centro do Rio, com entrada franca, censura livre e acesso para portadores de necessidades especiais. Por Solange Noronha


Dois importantes artistas plásticos brasileiros ganham retrospectivas de sua obra, ambas na Caixa Cultural (Av. Almirante Barroso, 25, próximo à Estação Carioca do metrô). “O universo gráfico de Glauco Rodrigues” abre terça-feira, 15, na Galeria 3, e segue depois para São Paulo e Curitiba. Na quarta-feira, 16, na Galeria 2, é a vez de “Rubens Gerchman: os últimos anos”, que também irá para a capital paulista. As duas exposições ficam no Rio até 8 de maio e têm visitação aberta ao público de terça a sábado, das 10h às 22h, e aos domingos, das 10h às 21h.

Um jovem de 70 anos

“O universo gráfico de Glauco Rodrigues” é a primeira retrospectiva em homenagem ao artista gaúcho depois de sua morte, em 2004, aos 75 anos. Serão exibidos oito desenhos, 40 serigrafias, 33 litografias, cinco linoleogravuras, 20 capas de revistas, sete capas de discos e seis capas de livros.
O dramaturgo Antonio Cava — curador da mostra com a colaboração de Norma Estellita Pessôa, viúva e responsável pelo acervo de Glauco — fala de sua expectativa: ¨Espero que as pessoas relembrem seu trabalho e, principalmente, que as novas gerações possam conhecê-lo melhor. Acho que sua obra é ainda jovem, moderna e contemporânea. Quando comprei minha primeira gravura do Glauco, em 1999, achava que se tratava de um artista jovem, pelas cores, o tema, a linguagem. Quando fui pesquisar, descobri que ele já tinha 70 anos.”

Garota de Ipanema - Fase Pop - 1967
Colecionador de obras do artista, Antonio destaca suas preferências: “Gosto muito da fase pop e tropicalista. A luz na pintura de Glauco foi tão revolucionária quanto as guitarras elétricas na MPB. Ele fez uma pintura à altura da luminosidade brasileira. Gosto também das metáforas políticas, em que ele retratou tudo o que acontecia durante a ditadura militar. Glauco nunca se calou diante da censura e sempre denunciou a ignorância do regime.”

Galeria de Tipos Brasileiros - Mamãe Abaporu - Litografia - 1987
Também são importantes, diz ele, as dez litografias em homenagem ao Rio, “Guia turístico e histórico do Rio de Janeiro”, de 1979: “É uma viagem pitoresca através do tempo, em que o Glauco recicla a história da cidade, desde a fundação, e faz uma crônica de suas contradições. Esta série é a síntese de seu estilo. Fundo branco, figuras atemporais, mistura de passado e presente, antropofagia de pintores brasileiros, como Tarsila e Leandro Joaquim, e as cores da bandeira brasileira.”
O curador cita o trecho de um texto do crítico Fernando Morais para sintetizar o que sente às vésperas da abertura da exposição: “É de 1986 e dizia ‘(…) um país não se constrói apenas com usinas, ferrovias e outros grandes investimentos econômicos, mas também com imagens. A imagem de um país, seu caráter ou identidade, está sendo construída continuamente por alguns artistas que sabem captar e expor os desejos profundos de uma nação, seu imaginário. Glauco é um desses artistas’. Torço para que, no meio da hipertrofia de imagens que estamos vivendo, o público saiba valorizar o imaginário brasileiro.”

A existência como tema


Minibicicleta - Serigrafia - 2004
“Rubens Gerchman: os últimos anos” tem foco no trabalho realizado pelo artista carioca em São Paulo, para onde se mudou em 2003, aos 61 anos, “em decorrência de seu relacionamento com Maria Fernanda Monteiro de Barros e da vontade de estreitar relações com o mercado de arte paulistano”, segundo Enock Sacramento. O crítico de arte, que virou amigo do artista plástico e é o curador da exposição, conta o que o público verá na Caixa Cultural: “Na Papel Assinado, editora de serigrafias do Pedro Paulo Mendes e Silva — que ele chamava de ‘garimpeiro de imagens gráficas’ — e da Teca Lacerda, foram feitas 26 obras, de 2004 a 2008, ano em que Gerchman morreu. Quatro outras gravuras foram incluídas na mostra como referência de trabalhos anteriores: a litografia ‘Gramática’ (1974) e as serigrafias ‘Lindonéia’ (1966), ‘Banco de trás’ e ‘Voyeur amoroso’ (estas de 1981).”

Serie Carros VII - Serigrafia - 2004
Há um período, mas não um tema específico na mostra, como ressalta Enock: “Acho que o tema que está presente em toda a obra do Gerchman é a vida, o ato de existir. As séries ‘Banco de trás’ e ‘Beijo’ estão carregadas de sensualidade; as cenas de praia, com surfistas, ciclistas e outros personagens são plenas de movimento. Ele foi um cronista arguto da cidade grande, sobretudo do Rio de Janeiro. Foi um ser alegre, otimista. Mesmo quando sua saúde piorava, dizia que na próxima semana estaria bom. Um dia, porém, confessou-me que sentia muita falta do Rio.”
A presença de Gerchman no mercado de arte paulistano expandiu-se a partir de uma exposição individual em maio de 2004, em que predominavam justamente obras das séries “Banco de trás” e “Beijo”, iniciadas nos anos 1980. Em São Paulo, ele aprofundou amizades antigas com artistas da cidade, como Cláudio Tozzi e Cleber Machado, e iniciou outras, como conta Enock: “Nossa amizade começou em 2004 e uma dedicatória no ivro-catálogo ‘Caixa de fumaça’, editado pelo CCBB do Rio em 2001, registra este momento: ‘Para meu novo amigo Enock Sacramento, com  carinho do R. Gerchman’. Ele era muito atencioso com os amigos e tínhamos alguns projetos em mente. Como curador, incluí um trabalho seu na I Bienal da Aquarela Brasileira em Portugal, realizada na Galeria Municipal de Arte de Abrantes, em 2006.”

Próximas paradas

São Paulo receberá “Rubens Gerchman: os últimos anos” dia 10 de setembro, na Galeria D. Pedro II da Caixa Cultural, onde a exposição permanecerá aberta até 13 de novembro.
“O universo gráfico de Glauco Rodrigues” também segue do Rio para São Paulo — onde fica de 28 de junho a 21 de agosto — e de lá para Curitiba — de 30 de agosto a 16 de outubro. O texto de apresentação da mostra e do catálogo é de Luis Fernando Verissimo, que era amigo do artista e escreveu dois livros sobre ele: “Glauco Rodrigues” e “O arteiro e o tempo”

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