Curiosidades de facetas nem sempre conhecidas de nosso grande escritor. Por Marisa Motta
A Academia Brasileira de Letras deu sequência à edição das cartas de Machado de Assis com o lançamento da Correspondência de Machado de Assis: Tomo III, 1890-1900, elaborada sob a coordenação e orientação de Sergio Paulo Rouanet, e reunida, organizada e comentada por Irene Moutinho e Sílvia Eleutério.
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Este volume com 600 páginas reúne 292 missivas, entre cartas, bilhetes e cartões, que contêm informações interessantes sobre Machado. Vemos, por exemplo, que na mocidade ele foi influenciado pelo romantismo e se comove com Musset e recorda, em uma carta endereçada a Magalhães de Azeredo em 21 de julho de 1897, as folhas de salgueiro sobre o túmulo do poeta, que lhe foram trazidas por um amigo. A respeito de Stendhal, um dos seus autores favoritos, Machado cita em outra carta enviada também a Azeredo no mesmo ano uma estrofe em que Musset celebra a sinecura que permitia ao autor de Cartuxa de Parma sobreviver na Itália, como cônsul da França em Civitavecchia. Há também indicações importantes sobre a evolução das opiniões de Machado de Assis em relação a Eça de Queirós, após a sua crítica ao O primo Basílio. Mas a correspondência com Azeredo sugere que o ressentimento criado por essa crítica entre os dois escritores estava superado. Em uma das cartas a Azeredo enviada em 1898 ele cita que A ilustre Casa de Ramires promete ser um novo florão para o nosso Eça de Queirós.
Existem cartas em que Machado revela suas características de estilo e personalidade, como seu pessimismo, suas descrições pouco exuberantes sobre a natureza, não que ela lhe fosse indiferente, mas porque sua preocupação exclusiva com o homem ocupava todo o espaço de seus livros. Algumas cartas têm um tom confessional, como em uma carta a Azeredo de 2 de abril de 1895, na qual ele menciona que devido a uma retinite prolongada ele ditou meia dúzia de capítulos de Memórias Póstumas de Brás Cubas à sua mulher. Ou a franqueza surpreendente demonstrada ao assunto que mais o afligia, sua doença, quando disse a Azeredo que teve de interromper uma carta, porque fora acometido pelo “mal”.
A partir de 1896, Machado de Assis concentra-se em um grande tema: A Academia Brasileira de Letras. A correspondência a esse respeito é tão volumosa que só é possível mencionar de passagem os principais documentos. Os mais antigos referem-se à fase de fundação e instalação da Academia. Dessa fase constam uma carta de Rui Barbosa, avisando que não poderia comparecer à segunda sessão preparatória de 23 de dezembro (talvez estivesse ressentido por não ter sido convidado para a primeira); e duas cartas, uma de Valentim Magalhães e outra de Filinto de Almeida, prevenindo que não poderiam ir à terceira sessão preparatória. Por fim, a Academia foi fundada em 20 de julho de 1897 em sessão solene na presença de 17 membros.
As cartas de Magalhães de Azeredo compõem um painel variadíssimo. Em volume e importância vem em seguida a correspondência com José Veríssimo. São 38 cartas das quais 28 de Machado. Entre outros interlocutores também importantes encontram-se Graça Aranha, Lúcio de Mendonça e Joaquim Nabuco, amigo dedicado dos últimos anos.
A Academia Brasileira de Letras, mais uma vez, realizou um trabalho excepcional de divulgar a riqueza desse material sobre um dos maiores escritores do Brasil.
 
 
 
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