FUTEBOL
Brasil mantém os craques em casa
Bom momento econômico pode explicar diminuição nas exportações de jogadores de futebol para a Europa

A negociação ainda não se concretizou, mas a ideia da transferência de Carlos Tevez, um jogador de futebol argentino com saudades de casa, do Manchester City para o Corinthians, por US$ 64 milhões, sugere que algo que algo diferente acontece no esporte mais popular do Brasil. A negociação de Tevez fracassou em parte pelo fechamento da janela de transferência. Mas seu colega de clube, Jô retornou ao Brasil, assim como Denílson, do Arsenal de Londres.
Eles se juntam a uma crescente lista de jogadores das equipes de ponta que abandonaram os ricos clubes europeus antes do fim de seus contratos. Alguns dos principais jogadores brasileiros até mesmo estão pouco inclinados a deixar o país. Neymar, destaque do time do Santos, parece ter preferido ficar no Brasil ganhando dinheiro graças a publicitários que utilizam seu corte de cabelo em propagandas, do que tentar fazer fortuna nos gramados europeus.
Em parte, isso é fruto de mudanças na balança econômica. Entre 2004 e 2010 o real teve uma valorização de 35% em relação ao euro. No mesmo período, o comércio brasileiro teve um crescimento de 27%. O país pode exportar tantos jogadores que eles têm até mesmo sua própria coluna nas planilhas do Banco Central, mas a saída de jogadores foi 10% menor em 2009 do que no ano anterior.
Grandes estrelas, como Kaká, do Real Madrid, são seguidas por uma enormidade de jogadores que vivem em condições menos glamorosas. Em 2009, dois brasileiros foram jogar em Bangladesh, 12 partiram para Angola, e outros 13 foram jogar no Irã. Um brasileiro se aventurou até mesmo a jogar nas geladas Ilhas Faroe. O real valorizado torna esses jogadores viajantes mais caros para os clubes estrangeiros.
Ainda assim, a habilidade cada vez maior dos clubes brasileiros de atrair e manter o talento é também um indicativo de outra tendência positiva. Por todo país, a gestão melhorou, desde o setor privado até os governos dos grandes estados, e os clubes de futebol não são exceção. Apesar de sua imensa popularidade, o Corinthians passou anos difíceis, jogando em um estádio alugado. O clube pode não ter produzido dinheiro suficiente para recontratar Tevez, mas tem muito mais dinheiro que o de costume, graças a um novo acordo televisivo e uma abordagem mais comercial de sua torcida. O clube está construindo um novo estádio, que, em tese, estará pronto para a Copa do Mundo de 2014. O uniforme do Corinthians é um apanhado de logotipos de patrocinadores, que inclui até mesmo uma marca de desodorante sobre as axilas dos jogadores do time.
Alguns torcedores não gostam do novo estilo comercial. Enquanto na Inglaterra seu nome é associado ao amadorismo aristocrático, os fundadores do Corinthians tinham ideais democráticos desde o tempo em que o futebol brasileiro era um passatempo das elites (e jogadores negros eram proibidos nas ligas). O ex-presidente Lula é o torcedor mais famoso do clube. Algo semelhante aconteceu com o futebol inglês, que deixou de ser um assunto da classe trabalhadora para se tornar o playground de empresários bilionários. Na verdade, o futebol brasileiro cada vez mais se assemelha ao inglês em outros aspectos. Na última semana, a seleção nacional foi eliminada nas quartas de final da Copa América, após ser derrotada nos pênaltis pelo Paraguai.
 
 
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