terça-feira, 10 de maio de 2011

Pillart e Malcon X.

Pillart e Malcon X. by aritanadantas

As várias identidades de Malcolm X


Livro de Manning Marable acompanha transformações na vida do líder negro, desde a juventude criminosa até sua conversão ao islã ortodoxo

Malcolm Little teve vários nomes antes de ser assassinado em um teatro de Nova York, em 1965. Enquanto era um jovem malandro, ladrão e traficante de drogas, ele era o “Detroit Red”. Como um devoto muçulmano sunita, ele se tronou El-Hajj Malik El Shabazz. Mas na memória da maioria, ele continua sendo Malcolm X, o rosto carismático da Nação do Islã, que pregava que os brancos eram demônios, e que o separatismo negro era a resposta para os problemas raciais dos Estados Unidos.
Qualquer que fosse o nome usado, a curta vida de Malcolm (ele foi assassinado aos 39 anos) é uma história fascinante, e é bem relatada por Manning Marable, diretor do Instituto de Pesquisas em Estudos Afro-Americanos da Columbia University, que infelizmente morreu poucos dias antes que seu livro, “Malcolm X: A Life of Reinvention” (“Malcolm X: Uma Vida de Reinvenção”) fosse publicado. O fascínio está na evolução das crenças de Malcolm: do nacionalismo negro e do pan-africanismo de Marcus Garvey até o separatismo negro da Nação do Islã e a aceitação do islã ortodoxo sem restrições raciais. Seu relato inclui o incêndio de sua casa na infância, a brutalidade impiedosa dos membros da Nação do Islã, as aventuras sexuais do líder espiritual do grupo, Elijah Muhammad, e o entusiasmo com o qual as elites políticas e religiosas receberam Malcolm em suas viagens à Europa, África e Oriente Médio.
Alguns dos detalhes vêm de “A Autobiografia de Malcolm X”, contada por Alex Haley (que depois ficou famoso como o autor de “Raízes”) e publicada logo após a morte de Malcolm. Mas Marable defende que a autobiografia estava mais próxima de uma espécie de livro de memórias — daí o exagero no envolvimento do jovem Malcolm no crime – do que de um sólido exercício de objetividade. Ao invés de se apoiar na autobiografia, Marable revirou recortes de jornais norte-americanos, europeus e africanos da época, e os uniu à recente divulgação pública de centenas de cartas, fotografias e discursos de Malcolm.
‘Black Power’
Malcolm X foi apenas uma das várias figuras negras proeminentes na turbulenta política racial do início dos anos 1960 nos Estados Unidos. John Lewis, agora um membro da Câmara dos Representantes, organizava os Freedom Riders numa tentativa de registrar eleitores negros no sul dos Estados Unidos. Martin Luther King pregava a não-violência na luta dos negros por direitos civis; e Stokely Carmichael, um dos Freedom Riders, que depois se juntaria ao Partido dos Panteras Negras, começava a perder a paciência com a não-violência, e cunhava o slogan “Black Power”.
Foi Malcolm, no entanto, que teve mais apelo entre os negros pobres, tanto nas cidades quanto no campo. “Afroamericanos pobres podiam admirar o Dr. King, mas Malcolm não apenas falava sua língua, mas também tinha sua experiência de vida – em orfanatos, prisões e filas de desempregados”, escreve Marable. A dúvida era como Malcolm usaria este apelo.
Ele era, no princípio, o discípulo favorito de Elijah Muhammad, mas sua atração pela política não se encaixava na recusa da Nação do Islã em se envolver no movimento pelos direitos civis. No início de 1964, Malcolm já havia deixado a Nação. A desavença era tanto de caráter pessoal, graças à inveja que Malcolm provocara dentro do grupo; e ideológica: sua conversão ao islã ortodoxo colidia com as heresias da Nação do Islã (não apenas Elijah Muhammad afirmava ser um novo profeta, mas o fundador do grupo, Wallace Fard afirmou ser a personificação de Alá).
A Nação do Islã foi responsável pelo assassinato de Malcolm? Seus líderes negaram qualquer ligação com o crime, mas Louis Farrakhan, que se tornou o líder depois da morte de Elijah Muhammad, declarou em dezembro de 1964 que “um homem como Malcolm X merece morrer”. A condenação de três homens da Nação do Islã não calou os céticos que suspeitam de participação do FBI e da polícia.
Marable evita julgamentos sobre o assassinato. Ao invés disso, ele examina o legado de Malcolm. Enquanto King apareceu em um selo e tem um feriado nacional em sua homenagem, Malcolm apareceu em um selo iraniano e foi celebrado pela Al Qaeda. Marable especula sobre o que poderia ter acontecido caso Malcolm tivesse vivido: “À medida que sua visão social se expandiu e passou a incluir pessoas de várias etnias e nacionalidades, seu humanismo e antirracismo poderiam ter se tornado uma plataforma para um novo tipo de política étnica radical global”. Talvez. No entanto, alguns podem ter a sensação de que sua conclusão é baseada mais nas esperanças do autor do que na realidade da vida que ele descreve tão bem em seu livro.

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