TENDÊNCIAS E DEBATES
Você é a favor do kit contra homofobia do MEC?
Vídeos do projeto Escola Sem Homofobia vazaram na internet e provocaram a discussão. Por Emanuelle Bezerra
O Ministério da Educação, em um esforço para transformar as escolas em ambientes sem preconceitos e menos hostil para adolescentes homossexuais, desenvolveu o projeto Escola Sem Homofobia. Entre as ações propostas pelo projeto está a distribuição de um kit contendo cartilha, cartazes, folders e três vídeos educativos. Mesmo sem ter chegado às escolas ainda, o kit contra homofobia já provoca discussões inflamadas na sociedade.
A causa do debate em torno do material pedagógico é um dos vídeos que vazou na internet. Ele conta a história de um adolescente transsexual que, além de não conseguir que membros da sociedade respeitassem a mudança de seu nome, ainda vive o conflito de qual banheiro usar — o feminino ou o masculino. Encontrando Biancaprovocou abaixo-assinados virtuais, tanto favoráveis quanto contrários à distribuição do kit, e um discurso polêmico do deputado federal Jair Bolsonaro (PP-RJ), em que ele declarou sentir nojo do que é mostrado nos vídeos e sugeriu “couro” para corrigir um filho “meio gayzinho”.
As declarações de Bolsonaro servem de base para aqueles que são contrários ao material. O deputado argumenta, ainda, que o kit é perigoso e que poderá incentivar o homossexualismo e a sexualidade precoce. Mas Bolsonaro desconhece a faixa etária para a qual o material é destinado. O deputado comenta que o kit será entregue a alunos que têm cerca de nove anos, entretanto, segundo a página do MEC, o projeto foi desenvolvido para escolas do Ensino Médio — fase do período escolar em que os alunos têm em média de 15 a 17 anos.
Anna Marina Barbara Pinheiro, socióloga especializada em sexualidade e coordenadora do Laboratório de Estudos de Gênero (LEG) da UFRJ, diz que o argumento de Bolsonaro não tem nenhum fundamento. “Discordo absolutamente do deputado. Material pedagógico não estimula comportamento, em nenhum caso. Pode chocar, mas ninguém vai se tornar homossexual por discutir o assunto na escola. Este é o argumento mais raso que pode ser dado”.
A professora Telma Coelho concorda. Ela dá aulas há cerca de 30 anos, está há seis no Colégio Estadual Presidente Antônio Carlos, no Rio de Janeiro, e diz que a escola não tem este poder. “Nenhum aluno que não tenha nenhuma tendência homossexual irá se transformar por ver um vídeo. O que pode acontecer é, após a exibição, um aluno homossexual se sentir mais livre para se assumir”. A professora articula, ainda, que este é um assunto velado nas escolas. “Por mais que esteja claro que a pessoa é gay, os colegas não tocam no assunto. Só há brincadeiras entre aqueles que não são. Os homossexuais em geral são respeitados dentro de sala”.
Mesmo assim, a pesquisadora Anna Barbara ressalta a necessidade de se debater o tema nas escolas, principalmente entre os alunos dessa faixa etária. “Essa é a fase da explosão da sexualidade. Todo mundo nasce sexuado, mas a adolescência é a fase da explosão. Os adolescentes precisam ser educados sobre isso. Não adianta esperar que sejam instruídos só em casa. A escola tem um papel fundamental”. Já Telma, acredita que é importante debater o preconceito, informar sobre as leis, mas não acredita que a escola tenha tanta influência sobre a formação do valor de um aluno.
“Se pudéssemos transformar a maneira de pensar dos alunos, principalmente os de escolas públicas dessa idade, que chegam aqui com marcas da vida adquiridas fora da escola, não teríamos tantas meninas grávidas, ou coisa semelhante. Eles podem ter um comportamento agressivo coibido, mas permanecem com o princípio que já desenvolveram anteriormente”, conclui.
Segundo o Conselho Federal de Psicologia (CFP), a distribuição pelo Ministério da Educação (MEC) de material educativo contra a homofobia “representa material de vanguarda, pois são instrumentos de capacitação e formação continuada para o próprio professor. O kit reforça a atenção e o cuidado com os temas transversais da educação nas relações de ensino-aprendizagem, como no caso do respeito à diversidade sexual”.
A aprovação do Conselho Federal de Psicologia vai ser somada a outros documentos favoráveis à distribuição. Eles serão entregues à Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais (ABGLT) e ao MEC como forma de garantir e reforçar que o material seja distribuído e não seja barrado, como pede o deputado federal Jair Bolsonaro.
A Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) também se posicionou favorável ao kit. A entidade afirmou, por meio de ofício, que os materiais educativos do projeto “estão adequados às faixas etárias e de desenvolvimento afetivo-cognitivo a que se destinam, de acordo com a Orientação Técnica Internacional sobre Educação em Sexualidade, publicada pela UNESCO em 2010″.
Caro leitor,
Você é contra ou a favor da distribuição dos kits contra homofobia nas escolas?
Você acha que o material poderá mudar o comportamento e a forma de pensar dos alunos em relação aos homossexuais?
Assista aos vídeos que compõe o kit abaixo:
Probabilidade
Torpedo

 
 
Nenhum comentário:
Postar um comentário